O que é a inflação e como funciona?

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Neste artigo, exploramos a Inflação e a Deflação – dois fenómenos económicos com impactos significativos na vida quotidiana e no ambiente de investimento.

Discutimos as principais causas da inflação em Portugal, analisamos os índices que medem estas variações de preços e avaliamos como a Deflação pode ser tão perigosa quanto a Inflação desenfreada. Além disso, oferecemos estratégias eficazes para proteger investimentos da erosão inflacionária, garantindo assim a preservação e o crescimento do seu património no longo prazo.

O que é a inflação?

A inflação é o aumento geral e contínuo dos preços de bens e serviços numa determinada economia, que se reflete na diminuição do poder adquisitivo da moeda. Este fenómeno é normalmente medido através da taxa de inflação, que é o percentual de aumento dos preços num determinado período.

Quando existe inflação, cada unidade de moeda compra menos bens e serviços do que antes, o que pode levar a um aumento no custo de vida. A inflação pode ser causada por vários fatores, como o aumento da procura por produtos e serviços que excede a oferta, aumentos nos custos de produção, ou pela expansão da base monetária por parte do banco central do país.

É importante monitorizar e gerir a inflação porque níveis muito altos podem ser prejudiciais à economia, afetando o poder de compra, os investimentos e as poupanças.

Quais são as principais causas da inflação?

Vamos dividir as causas de inflação em 3 categorias principais:

  1. Inflação de custos: conhecida como inflação da oferta, é causada pelo aumento dos custos de produção dos bens e serviços. Isso pode acontecer devido ao aumento dos preços dos “inputs” (como matérias-primas e energia) ou salários. Quando os produtores enfrentam custos mais elevados, eles tendem a repercutir esses mesmos custos para os consumidores na forma de preços mais altos.
  2. Inflação monetária: ocorre quando há um aumento na oferta de dinheiro no mercado, superando o crescimento económico. Quando está mais dinheiro disponível, mas a quantidade de bens e serviços permanece constante, os preços tendem a subir. A inflação monetária pode ser resultado de políticas dos bancos centrais que aumentam a base monetária, como a impressão de dinheiro ou a taxa de juro diretora muito baixa, que incentivam o empréstimo e a despesa.
  3. Inflação de procura: dá-se quando há um aumento na procura por bens e serviços que não pode ser satisfeita/atendida de forma imediata pela oferta. Esse desequilíbrio leva à subida dos preços. A inflação da procura pode ser impulsionada por diversos fatores, como o aumento do consumo privado, dos investimentos empresariais ou dos gastos governamentais, bem como pela expansão do crédito e baixas taxas de juro que facilitam o acesso ao financiamento.

Além das causas que enumerei acima, fatores externos como variações cambiais e políticas fiscais, também podem influenciar a inflação, bem como as expetativas inflacionárias, que ocorrem quando consumidores e empresas esperam que os preços subam no futuro e ajustam os seus comportamentos de preços e salários e conformidade.

Como é calculada a inflação?

A inflação é calculada utilizando um índice de preços, que mede a variação percentual no custo de um cesto fixo de bens e serviços ao longo do tempo. O mais comum e que vamos utilizar para dar o exemplo, e em simultâneo, o mais usado é o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Vamos então ver como se processa o cálculo:

  1. Seleção de bens e serviços: em primeiro lugar, define-se um cesto “standard” de bens e serviços que reflete os padrões de consumo das famílias. Este cesto pode incluir uma panóplia de itens, tais como, alimentos, vestuário, habitação, cuidados de saúde, transportes, entretenimento, entre muitas outras componentes.
  2. Recolha de preços: regularmente são recolhidos os preços destes bens e serviços em várias localizações. Esta recolha de preços é feita para capturar as variações que ocorrem devido a mudanças sazonais, tendências de mercado, e outros fatores económicos.
  3. Cálculo do índice: o índice é calculado com base nos preços recolhidos, considerando a importância relativa (ou peso) de cada item no cesto total do consumidor. Os pesos são atribuídos com base na proporção de despesas que os consumidores gastam em cada categoria de bens e serviços.
  4. Cálculo da Taxa de Inflação: a taxa de inflação é a variação percentual do índice de preços entre dois períodos (modo geral, de um ano para o outro). A título exemplificativo, se o IPC aumenta de 100 para 103 num ano, a taxa de inflação anual seria de 3%.

Tipos de Inflação

A inflação pode ser classificada em diferentes tipos, com base nas suas causas, velocidade e impacto na economia. Aqui estão os principais tipos de inflação: (nas causas já falamos de alguns daí não repetir neste tópico novamente).

  • Inflação estrutural: este tipo de inflação deriva de problemas estruturais na economia, que levam a distorções na oferta e na procura. Pode incluir regulamentações governamentais que limitam a oferta, práticas de mercado inadequadas ou infraestrutura insuficiente.
  • Inflação importada: tende a ocorrer quando os preços dos produtos importados aumentam, o que pode ser devido à desvalorização da moeda local em relação às moedas estrangeiras, aumentando assim o custo das importações.
  • Inflação Galopante: refere-se a taxas de inflação muito altas, mas geralmente sustentáveis, que podem variar entre 10% a 1000% ao ano. Este tipo de inflação pode destabilizar a economia, pois, os preços sobem rapidamente e de forma imprevisível.
  • Hiperinflação: é um tipo extremo de “Inflação Galopante”, onde os preços aumentam em mais de 50% por mês. Este tipo de inflação é muito destrutivo, podendo levar ao colapso da moeda, à evasão de capital e à recessão económica severa.
  • Inflação moderada: caracteriza-se por taxas de inflação baixas e estáveis, geralmente de um dígito anual, que são considerados controláveis e previsíveis. Este tipo de inflação é visto como normal e até desejável em muitas economias modernas/desenvolvidas.
  • Deflação: embora tecnicamente seja o oposto da inflação, refere-se à queda geral dos preços dos bens e dos serviços. A “Deflação” pode ser problemática para a economia, pois, pode levar a redução do consumo e do investimento, devido às expetativas de que os preços vão continuar a cair.

Consequências da Inflação na economia e na vida

Consequências Económicas

  • Erosão do poder de compra: a inflação reduz o poder de compra da moeda, o que significa que com a mesma quantidade de dinheiro, as pessoas podem comprar menos bens e serviços do que compravam num momento anterior.
  • Custos: aqui quando me refiro a custos, vamos pensar no seguinte: as empresas tendem a ter custos mais altos para atualizar frequentemente os seus catálogos de preços e lojas online, o que pode acabar por ser dispendioso a atualização constante dos preços.
  • Incerteza Económica: altas taxas de inflação podem levar a uma maior incerteza económica, dificultando o planeamento a longo prazo tanto para as empresas como para o consumidor.
  • Taxas de juros: para combater a inflação a ferramenta preferida dos Bancos Centrais, é aumentar taxa de juro diretora, o que faz com que o crédito fique mais caro e pode desacelerar o investimento e o consumo.
  • Alocação de Recursos: a inflação pode distorcer a alocação de recursos, pois, os preços deixam de refletir adequadamente a escassez relativa dos bens, levando a investimentos ineficientes.
  • Competitividade Internacional: a inflação pode afetar a competitividade internacional de uma economia, tornando os seus produtos e serviços relativamente mais caros no mercado global.

Consequências Pessoais

  • Redução do valor real da dívida: para indivíduos endividados, a inflação pode reduzir o valor real do que devem, beneficiando-se se os seus rendimentos aumentarem ao ritmo da inflação ou mais rapidamente.
  • Perda de rendimento real: se os salários não acompanharem a inflação, haverá uma perda de rendimento real, o que dificulta a manutenção do mesmo padrão de vida.
  • Poupanças e investimentos: a inflação pode corroer o valor real das poupanças. Os investidores podem (e devem) procurar ativos que ofereçam retornos acima da taxa de inflação, como por exemplo, ações ou imóveis.
  • Decisões de consumo: com a inflação, os consumidores podem antecipar compras, esperando assim que os preços subam mais num futuro próximo, o que pode levar a uma procura “artificialmente” mais elevada e consequentemente mais inflação.
  • Planeamento da reforma: a inflação pode complicar o planeamento para a reforma, pois, a quantidade necessária para viver confortavelmente no futuro tenderá a ser muito maior do que o previsto.

O que é a “Deflação” e porque pode ser um problema?

A “Deflação” é o oposto da inflação, representando uma queda geral e contínua nos preços dos bens e serviços numa economia. Embora à primeira vista possa parecer benéfica, pois, os preços estão a baixar, a “Deflação” frequentemente sinaliza problemas subjacentes graves na economia e pode ter consequências negativas duradouras. De seguida, vou deixar alguns pontos do motivo de a “Deflação” ser problemática:

  • Redução do consumo e investimento: quando os preços estão em queda, tanto os consumidores como empresas podem adiar compras na expetativa de que os preços baixem ainda mais no futuro. Isso reduz a procura geral, levando a uma espiral descendente de menos vendas, produção reduzida, e, consequentemente, menor crescimento económico.
  • Aumento do valor real da dívida: a “Deflação” aumenta o valor real da dívida. Com os preços a baixar, o valor do dinheiro aumenta, o que significa que o mesmo montante de dinheiro vale mais amanhã do que vale hoje. Torna-se mais caro para os devedores pagarem as suas dívidas, podendo levar a aumentos no incumprimento e falências.
  • Desincentivo à inovação e ao investimento: com os preços em declínio, as empresas podem ver as suas receitas diminuírem, mesmo se mantiverem ou aumentarem as vendas em volume. Isso reduz os lucros e o capital disponível para reinvestir em tecnologia, inovação e expansão.
  • Desemprego: a redução na procura e no investimento pode levar as empresas a cortar custos, incluindo mão de obra, resultando num aumento de desemprego. O desemprego elevado, por sua vez, pode levar a uma maior redução da procura, criando assim um círculo vicioso.
  • Dificuldades para os Bancos Centrais: as habituais/tradicionais ferramentas de política monetária que os Bancos Centrais usam, tais como, a redução da taxa de juro diretora, tornam-se menos eficazes num ambiente deflacionário. A taxa de juro diretora “não pode/não deve” cair abaixo de zero (0), mas na verdade até pode, mas vai ver-se com uma eficácia muito limitada), o que limita a capacidade dos Bancos Centrais de estimular a economia.
  • Impactos psicológicos: a “Deflação” pode criar uma expetativa de continuação da queda dos preços, o que pode estagnar ainda mais a atividade económica, pois, os consumidores e empresas permanecem “à espera”, por condições mais favoráveis que “nunca mais chegam”.

A “Deflação” pode ser tão ou mais danosa que a “Inflação” alta, principalmente porque pode ser difícil de combater uma vez que se instala. É um indicador de que há problemas fundamentais na economia, como falta de procura e capacidade produtiva excedente. Por isso, os decisores políticos e economistas costumam monitorizar de perto os indicadores de preços, tentando assim evitar tanto a “Inflação” quanto a “Deflação” excessivas.

Quais são os Índices de Inflação relevantes em Portugal?

  1. Índice de Preços no Consumidor (IPC): este é o principal indicador da inflação em Portugal e mede a variação média dos preços dos bens e serviços adquiridos para consumo pelas famílias. O IPC é utilizado para ajustar pensões, salários e outros contratos que incluem cláusulas de indexação automática de preços.
  2. Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC): este índice é calculado para todos os países da União Europeia (UE), e permite uma comparação direta das taxas de inflação entre os países membros. O IHPC segue uma metodologia comum estabelecida pela “Eurostat”, o escritório de estatísticas da União Europeia.
  3. Índice de Custos de Construção de Habitação Nova: específico para o setor de construção, este índice mede a evolução dos preços dos materiais e da mão-de-obra no setor da construção de habitação nova. É relevante para o setor imobiliário e para a política de habitação.
  4. Deflator do Produto Interno Bruto (PIB): embora não seja um índice de preços ao consumidor, o deflator do “PIB” é uma medida abrangente da inflação na economia, pois, reflete as mudanças nos preços de todos os bens e serviços que compõem o “PIB”.
  5. Índice de Preços ao Produtor (IPP): este índice mede a evolução dos preços dos produtos na “porta da fábrica”, ou seja, exclui os custos de transporte e distribuição até ao consumidor final. O “IPP” é um indicador importante para avaliar a pressão inflacionária na economia, que pode eventualmente ser transmitida aos consumidores.

Como proteger o seu dinheiro contra a “Inflação”? (Investimentos)

Proteger o dinheiro contra a “Inflação” é crucial para manter o poder de compra e garantir que o valor do seu capital não seja “destruído” ao longo do tempo. Aqui estão algumas estratégias de investimento que podem ajudar a proteger o seu dinheiro contra a “Inflação”:

  • Investimento em Ações: as ações são consideradas um dos melhores meios de proteção contra a inflação a longo prazo. As empresas têm a capacidade de ajustar os preços de acordo com a Inflação, o que pode levar a um aumento das receitas e lucros, refletindo-se positivamente nos preços das ações.
  • Títulos Indexados à Inflação: em alguns países, nos quais está incluído Portugal, existem títulos de dívida Pública indexados à Inflação (Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável em Portugal). Estes títulos ajustam o valor dos pagamentos de juros e do principal com base na Inflação, salvaguardando assim o investidor.
  • Investimentos em Imóveis: o setor imobiliário é tradicionalmente visto como uma boa proteção contra a Inflação. Os valores dos imóveis tendem a aumentar com a Inflação. Investir em propriedades ou em fundos de investimento imobiliário (REIT’s) pode ser uma forma eficaz de “Hedging Inflacionário”.
  • Commodities (matérias-primas): investir em matérias-primas como ouro, petróleo ou commodities (matérias-primas), pode oferecer proteção contra a Inflação. O ouro, em particular, é frequentemente visto como um refúgio seguro durante períodos de alta Inflação.
  • Diversificação Internacional: investir em mercados internacionais pode também proteger contra a Inflação local. Alguns mercados podem ter menor inflação ou oferecer oportunidades de investimento em economias com crescimento mais rápido.

➡️O que são produtos financeiros?

➡️Como investir em ativos financeiros?

Estar mais informado sobre esta matéria (Inflação) é importante?

Entender a inflação é crucial por várias razões, tanto para indivíduos como para economistas, empresários, e formuladores de políticas monetárias, pois, afeta de forma decisiva a economia e as decisões financeiras pessoais. Aqui estão alguns pelos quais é importante compreender a Inflação:

  • Planeamento financeira: para indivíduos, entender a inflação é fundamental para o planeamento financeiro a longo prazo. Isso inclui economizar para a reforma, investir e gerir as dívidas. Sem considerar a Inflação, pode subestimar-se a quantidade de dinheiro necessária para manter o padrão de vida desejado no futuro.
  • Decisões de Investimento: a Inflação pode afetar o retorno real dos investimentos. Por exemplo, se a taxa de retorno de um investimento é menor que a taxa de Inflação, o poder de compra do dinheiro investido, está na verdade a diminuir. Os investidores precisam de procurar ativos que oferecem rendibilidades acima da Inflação para preservar ou aumentar o seu capital.
  • Política Salarial: compreender a inflação ajuda os sindicatos e empregadores a estabelecer aumentos salariais que compensam a perda de poder de compra devido à Inflação. Isso é essencial para manter a qualidade de vida dos trabalhadores.
  • Formulação de Políticas Monetárias: para os formuladores de políticas monetárias, compreender a Inflação é essencial para estabelecer taxas de juros adequadas, políticas fiscais e outras medidas económicas. Controlar a Inflação é crucial para manter a estabilidade económica e promover o crescimento económico.
  • Contratos e Preços: nos negócios, entender a Inflação é importante para a definição de preços a longo prazo. Isso ajuda a garantir que as empresas permaneçam rentáveis mesmo quando os custos dos “inputs” aumentam devido a Inflação.
  • Custo de Vida: a Inflação impacta diretamente o custo de vida e entender como a mesma está a evoluir, ajuda as famílias a ajustarem os seus orçamentos, evitando assim surpresas desagradáveis, e controlarem as suas finanças.
  • Expetativas Inflacionárias: a perceção das pessoas sobre a Inflação futura pode afetar as decisões económicas atuais. Se as pessoas esperam que a Inflação suba, elas podem decidir gastar mais agora, o que por sua vez, pode impulsionar a Inflação atual.
  • Impacto Internacional: para as empresas que operam internacionalmente, entender a Inflação é importante para gerir riscos cambiais e competitividade de preços em diferentes mercados.

Compreender a Inflação permite que todos, desde governos a indivíduos, tomem decisões mais informadas e estratégicas, alinhadas com a realidade económica, protegendo-se contra os efeitos adversos da Inflação e aproveitando as oportunidades que surgem num ambiente inflacionário.

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